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TV Colosso - Saiba como tudo aconteceu em uma entrevista exclusiva com Beto Dorneles !!!

TV Colosso é um daqueles programas que a gente sabia que ia dar certo – MUITO CERTO – por conjunção do destino, universo, talentos individuais e verbas (quase) infindáveis da TV Globo. Foi um dos programas de maior sucesso da TV Brasileira – e não vou falar apenas da categoria infantil não: o programa é parte da nossa cultura e história pop, não podemos negar!

Agora, o melhor é: os deuses nostálgicos me foram bons o suficiente para me apresentar o Beto Dorneles pelo Instagram. Para quem não é familiar ao nome, vai aqui: o cara é um dos idealizadores, criadores e fundadores da TV Colosso ao lado de Luiz Ferré. 

A patente dele? Combo de Gandalf com Walt Disney, manja? E foi assim que, um cara que não curte lá muito dar entrevistas, abriu um CAMINHÃO de generosidade e me contou um pouco do backstage e do período de ideação/criação e pré-produção!  Valeu demais, Beto!

Primeira Foto: Créditos – Roberto Silva, Divulgação. Beto à Direita.
Segunda Foto: Crédito Desconhecido. Ferré, Boninho e Beto à direta de blusa branca!

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Começando o Papo!

Super Almanaque: Beto, uma curiosidade grande que eu tenho é com a pré-produção. Como foi a gestação da ideia, o nascimento de um conceito e o piloto indo pro ar?

Beto: Foi uma coisa de louco. Em agosto de 92 o Boninho que nos conhecia de um programa que fizemos em 1984 para a Globo, fez o primeiro contato com a gente perguntando se conhecíamos a técnica usada na “Família Dinossauro”. A Globo estava buscando um projeto para assumir o mesmo horário que era da Xuxa e nos pediu para que fizéssemos um protótipo de boneco de vestir controlado por rádio – no mesmo estilo da Família Dinossauro.

Mesmo com o nosso conhecimento sobre bonecos, vale lembrar que na época era tudo bem difícil de estudar e de achar informações – nunca tínhamos trabalhado com mecânica associada a rádio controle. O Ferré descobriu um livro e como a complexidade era gigante, chamamos um técnico em Mecânica e outro em Eletrônica para nos ajudar no prazo que nos foi dado: 2 meses!

Nesse meio tempo, já aproveitamos pra bolar o que seria o programa, quais personagens a gente ia apresentar e tudo mais. Voamos pro Rio pra apresentar e fizemos alguns takes no antigo estúdio Fênix. Coisa de teste de caminhada de expressões, dublagens e tudo mais.

O Maurício Sherman, que era uma espécie de Diretor Geral da Globo, antes do Boninho tomar frente, nos chamou pra conversar – ele ficou impressionado com o potencial do que levamos e nos deu carta branca – “agora é com vocês!”.

Isso foi a deixa que eu precisava pra fazer a coisa realmente ser impactante – disse que precisávamos ir atrás das melhores opções e matérias primas do mercado mundial. Sherman deu o OK, Produtor deu o OK e voltamos pra Porto Alegre, esperando resolver alguns assuntos legais enquanto desenvolvíamos o conceito do programa – nos deram total liberdade de criação!

Super Almanaque: Nossa! E desse momento até a estreia – foi quanto tempo?

Beto: Isso era Novembro e a estreia tava marcada – e realmente foi – em Abril de 1993, no ano seguinte. A Globo demorou uns dois meses e a gente já começou a trabalhar com planejamento, pesquisa e criação. Em Dezembro, por nossa conta, começamos os trabalhos com os bonecos – os pequenos primeiro. Aliás, o primeiro mesmo foi o Jaca Paladium. Começou a bater aquele medo – eu e os técnicos íamos pra Los Angeles, e ainda sem previsão de data – mas no final de Dezembro tudo saiu!

Em duas semanas fomos pra LA  pra visitar os estúdios da Família Dinossauros. Fomos também nas oficinas das Tartarugas Ninja e eu brinquei lá com os Joysticks dos controles faciais! Imagina só a felicidade do bobão em 1993 fazendo isso! Era um dia em estúdios e oficinas e outro dia inteiro fazendo compras de eletrônicos, pêlos e outros acessórios para usar na construção de bonecos – sem limite de gastos. A Globo não queria errar – e não errou, pelo que parece! (risos)

Créditos – Acervo Pessoal Beto Dorneles

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Super Almanaque: E tudo correu numa boa, bicho?

Beto: Cara, se eu te contar, você não acredita! Essa aqui pouca gente sabe: Alguns poucos pêlos, compramos em Los Angeles mesmo já que o grosso teria que vir de uma fábrica em Boston. O produtor da Globo mandou tudo ir pra LA pra eu poder escolher as amostras no hotel mesmo. Eu gastei um dia INTEIRO fazendo seleção e voltamos pro Brasil. 3 dias depois, me ligam da Globo, dizendo que eu teria que voltar pros EUA – a fábrica só faria a mistura de fibras na minha presença! 

JF e o boneco de protótipo usado ainda no primeiro teste e que fecharam o projeto! 

Créditos – Acervo Pessoal Beto Dorneles

Super Almanaque: E o prazo comendo solto?

Beto: Sim! Isso a gente já tinha voltado pro Brasil em meados de fevereiro e a data final era dia 2 de Abril. O Luiz Ferré fazia reuniões com a equipe da Globo enquanto eu e a equipe acelerávamos tudo que podíamos em Porto Alegre! O Ferré escolheu a equipe de Redatores – super incríveis – a Globo nos cedeu os melhores profissionais da época. Os dubladores então eram incríveis ! Corta pro dia primeiro de abril de 1993 – 120 dias de trabalho intenso sem folga e sem nada – faltava finalizar só um personagem – o CAPACHÃO! Viramos a noite e 15 minutos antes de irmos pro Aeroporto ele tava pronto.Isso era praticamente 2 semanas antes da Estreia!

Super Almanaque: Chegaram a gravar piloto e tudo mais?

Beto: Fizemos apenas um dia ou dois de testes e já começamos a gravar valendo mesmo. Iam de 9 da manhã às 21, um mês inteiro sem folga nenhuma. Eu tava acabado – só ia pro hotel tentar descansar e no dia seguinte ainda tava exausto – eu manipulava vários personagens diferentes e estava em todas as cenas. Foi muito puxado nese início! Sobre episódio piloto, ele foi o primeiro episódio que foi ao ar e com edição pronta entregue 1 hora antes! LOUCURA!

Créditos – Acervo Pessoal Beto Dorneles

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Super Almanaque: Mas pelo menos vocês já tinham alguns episódios na gaveta, de segurança mesmo?

Beto: Aqui a resposta é simples: nenhum! Não tinha tempo! Foi tudo muito intenso e sem chance de erro. Tudo aconteceu por conta da nossa intuição criativa e experiência em teatro e TV. Tínhamos 10 anos de estrada, o Ferré é um artista incrível e a percepção dele nos guiou em boa parte do trabalho. Fora isso, nos cercamos de outros artistas e técnicos fantásticos. Era difícil de dar errado. O Boni deu o nome do Programa e nós demos os nomes do personagem! E o resto é história – bons anos criativos!

Créditos – Acervo Pessoal Beto Dorneles

AGRADECIMENTO

Beto, eu não tenho como te agradecer por ter dedicado o seu tempo em reviver essas memórias e compartilhar com a gente! Falo aqui mais uma vez que temos que ter muito orgulho da nossa história, da nossa cultura e de nossas produções. A TV Colosso é um programa de quase 30 aninhos que marcou uma geração inteira – que se lembra dos personagens que você criou e animou diariamente. Isso não é nada menos do que simplesmente incrível!